sábado, 11 de julho de 2009

A Última Flor***

Ainda tinha o bilhete da passagem
Outrora preso no espelho, quase a cair
Na janela, a já conhecida paisagem
Sem motivos para ficar, e um para partir

E foi naquela manhã de verão
De terno velho e sapato justo
Cruzou o asfalto rumo à estação
Farol fechado e quase um susto

Ao chegar, faltavam dez...
O bastante para o pão de queijo
E apenas para isso, sem café
O trem apitou. Adeus vilarejo!

Tumulto na porta e chapéu no chão
Nem gostava tanto, mas e o cabelo desajeitado?
Voltou para pegar, quase perdeu o vagão
Dividiu lugar com um senhor mau humorado

Por todo o caminho, nenhum som
O senhor de tanto reclamar era a exceção
Três horas mais tarde, um cheiro bom
Da terra querida, do antigo, da sua paixão!

Apressou-se para não se atrasar
Parou na banca de flores ao lado
Era preciso, de mãos vazias não poderia estar
Queria presenteá-la para lembrar o passado

Abriu a carteira, contemplou o retrato dela
Puxou a única nota que havia, sem hesitar.
Desejou o presente mais belo para sua bela
Mas comprou a flor que seu dinheiro podia pagar

Não tinha tempo para enfeitá-la. Disparou!
Chegou no portão de ferro entreaberto
Ajeitou a gravata desbotada. Entrou!
Algumas pessoas já haviam saído de perto

Esperou de longe até conseguir um lugar
Já estava só quando se aproximou
Nenhuma palavra, apenas um último olhar
Deixou a flor enterrar com seu único amor

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